6.21.2005

Senhor Anónimo

Não é linear que seja mesmo assim como a seguir vos conto!

Construí o quadro por reflexos temporais, somados, que juntei ao de hoje mesmo, pelas 9:00 horas.

Dei com ele – o Senhor Anónimo – no interior da curva para a direita que liga a Estrada Interior da Circunvalação à A3, no sentido Hospital de S. João Areosa.

Alto, seco, moreno (pudera) e com barbas (talvez a forma mais fácil de lidar com o problema). Como seria se: limpo, bem vestido e perfumado?

Não deu para fixar o rosto, porque só o vi nos breves instantes em que passei por ele. A curva é de 180 graus e fechada, logo muita atenção à estrada.

Pensarão: E isto a propósito de quê?
Simples. Dois ou três sacos de plástico, velhos, mas com algo dentro, pendurados nas barras de protecção, na zona dos suportes (não é normal) e, o mais importante, a curva completamente limpa. Tanto a berma esquerda, onde estavam os sacos, como a direita, onde se encontrava o Senhor Anónimo.

Assunto: O Senhor Anónimo tomou conta de um pouco da Terra Lusa e, como poucos, estima-a e conserva-a.

Caso: Porquê uma curva curta na entrada de uma auto-estrada?
Infelizmente não sei responder. O certo é que dei comigo no fim da curva a analisar o que vi, e foi de tal forma, que durou até Santo Tirso.

Retrospectivamente lembrei-me de outras ocasiões idênticas, e a que não dei a mínima atenção, que me fazem pensar que o Senhor Anónimo é residente de uma curva, não de uma casa – como outros, mas sim de uma curva e, muito importante, limpa e no seu estado minimalista.

De uma coisa talvez se livre. Do contacto com outros seres da mesma espécie que, possivelmente, não lhe darão a paz que precisa. Valerá a pena suportar alguma poluição, em detrimento do ruído de alguns humanos que chega a ser pior do que o dos carros.

Vou ficar atento às próximas passagens pela curva do Senhor Anónimo e tentar esquadrinhar um pouco melhor a sua posição relativamente ao eixo do Planeta. A ver vamos o que nos reserva alguma atenção ao nosso semelhante. Da simplicidade do que me pareceu talvez consiga aprender algo e, se tal acontecer, valeu bem a pena a minha atenção.

Manuel Joaquim