10.06.2005

Trama do passado

Aguentei até às 3 da manhã (na verdade, só vi das 2 às 3) o debate na RTP2 (horas vergonhosas para uma TV de serviço público apresentar um debate de candidatos às autárquicas) entre aqueles que querem mandar na cidade do Porto nos próximos quatro anos. Ultrapassados os insultos e as baixas acusações que se tornaram norma nas campanhas eleitorais, pode dizer-se que a última hora foi capaz de entusiasmar os mais crédulos. Não é o meu caso, embora tenha registado com agrado relativo que, afinal, os ditos candidatos a mandadores têm algumas ideias para a cidade e não só má-língua para exercitar. A questão é saber se alguma vez as colocarão em prática e a prática legitima a dúvida!

Senão veja-se:
Rio diz que vai, finalmente, ocupar-se da requalificação da Baixa. Será? É bom que se lembre que no início do mandato que lhe está a acabar disse que o Porto já tinha população que chegasse. Tinha? Já não tem? Mudou de opinião? Só agora percebeu que o Porto é um deserto à noite? Já o era então...
Assis fala da criação de um pólo científico, de investigação das novas tecnologias, que coloque o Porto no comboio da frente da investigação europeia... Bonito! Mas nada, rigorosamente nada foi feito nesse sentido nos 12 anos de reinado antes de Rio (consulados Fernando Gomes e Nuno Cardoso). Olhe-se as caras do PS. São as mesmas de sempre. Por que fariam agora alguma coisa?
Sá ataca Rio, diz-se próximo das posições sociais do PS (têm?) e promete uma presidência toda ela virada para o futuro, em termos sociais, científicos e sociais. Há aqui qualquer coisa errada... Não foi Rui Sá a bengala de que Rio necessitava para governar, porque sem o voto do CDU não conseguia aprovar as medidas. Na verdade, quase tudo o que Rio fez foi legitimado por Sá - por abstenção ou aprovação. Vai ser diferente nos próximos quatro anos se a correlação de forças for a mesma? Não acredito.
O Bloco - por sê-lo, omitem-se nomes - só será útil enquanto puder fazer barulho. Dêem-lhe poder e entrará em “black-out”.
Perante tudo isto, quase não tenho dúvidas: o Ensaio da Lucidez, de Saramago, é um bom ponto de partida para decidir em quem votar. Talvez assim apareçam outros candidatos, mais cândidos, mais credíveis, mais capazes de fazer algo pela cidade. Efectivamente.
Fernando Rogério

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